terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Homem e tecnologias: uma conexão contínua

Foto: David Davis/ Dreamstime



Jaciara de Sá Carvalho


No trabalho, na escola, em casa, em muitos lugares e a qualquer momento estamos cercados pelas tecnologias. Elas criam ambientes, que modificam nossa vida psíquica e, assim, nossas mentes e as interfaces destas tecnologias estão ficando cada vez mais híbridas. A tela do computador em que você lê este texto – escrito a partir de uma apresentação de Lucia Santaella -, sua mente e seu corpo se tornam mais íntimos com o passar dos dias. Não sabemos ainda o alcance desta intimidade, mas, de acordo com pesquisadores, ela só tende a crescer.


Essa hibridização foi o tom da conferência de abertura Linguagens líquidas e cibercultura ministrada pela coordenadora do programa de pós-graduação Tecnologias da Inteligência e Design Digital da PUC-SP, Lucia Santaella, no 6º. Encontro de Educação e Tecnologias de Informação e Comunicação (E-TIC 2008), realizado em novembro pela Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro.


Nesta conferência, Santaella tratou da evolução das tecnologias de comunicação e da nossa relação com elas. Baseando-se em seu livro Linguagens líquidas na era da mobilidade (Editora Paulus), a professora explicou que as tecnologias comunicacionais fazem circular variadas linguagens, dependentes do meio que as materializam. A linguagem do livro e do cinema, por exemplo, são diferentes: enquanto no livro a palavra e a imagem são estáticas e nem sempre aparecem juntas, no cinema, elas convivem de forma híbrida e aparecem em movimento.


Com o tempo, esta hibridização vai crescendo, de mãos dadas com a hibridização dos processos cognitivos. A primeira destas tecnologias, que ela chama “do reprodutível”, “já tem uma inteligência sensória, extensões de nossa capacidade visual e auditiva, que transforma os nossos sentidos, porque a inteligência não é só racional, ela é misturada, ligada aos sentidos humanos, transformando nossa relação com o mundo”, explica Santaella.


Segundo a pesquisadora, as cinco gerações tecnológicas que aumentam nossa capacidade para a produção de linguagem são seguintes:


1.Tecnologias do reprodutível (eletromecânicas): jornal, fotografia e cinema introduziram o automatismo e a mecanização da vida.


2.Tecnologias da difusão (eletroeletrônicas): rádio e TV deram origem à chamada cultura de massa, onde há um pólo emissor com uma penetração imensa entre os receptores.


3.Tecnologias do disponível: vídeo-cassete, controle remoto, walkman, DVD, TV a cabo, xerox personalizaram a recepção, colocaram disponível a possibilidade de se gravar um programa de TV, ouvir música andando na rua, tirar cópias de apenas uma parte de uma obra, etc.


4.Tecnologias do acesso: modem, mouse, software, mas, principalmente a Internet, que permite, em um clique, o acesso a uma infinidade de informações.


5.Tecnologias da conexão contínua. Telefones celulares e outras tecnologias nômades que independem de cabos e outros recursos para se ter acesso à informação. Cada uma destas gerações tecnológicas não substitui a anterior, pode integrar: o computador não fez o cinema desaparecer, pelo contrário, incorporou aquela linguagem, levando para dentro si os filmes para serem vistos, por exemplo. A nova geração tecnológica também pode diminuir o uso das tecnologias anteriores e seu poder sobre a vida diária e a cognição humana. Mas ela geralmente não extingue a anterior e, assim, cada cultura de uma época nasce da mistura do antigo com o mais recente. Todas as gerações tecnológicas criam impactos sociais, econômicos, culturais e cognitivos, que dependem da natureza e do grau de adesão em cada cultura. “Com o computador, o pensamento é registrado no ritmo da mente e, por isto, transforma a mente”, explica a pesquisadora.


Segundo Santaella, os jovens têm mentes distribuídas, são capazes de ver quatro telas ao mesmo tempo porque possuem uma atenção parcial contínua. “Eles têm outro tipo de mente porque possuem a capacidade de se comunicar por vários canais”, constata. Falando para uma platéia de professores, ela completa: “o mínimo que a gente pode fazer é compreender o que há nesta capacidade (...) nos solidarizarmos, para ver qual participação podemos ter”. Entender, por exemplo, que o jovem é um leitor imersivo, que navega e não grava na mente porque se utiliza de memória temporária. “O jovem vai ligando fragmentos de informação, criando sintaxe hipermidiática. É muito ativo, mas um pouco desmemoriado”, explica Santaella, que em seu livro Navegar no ciberespaço – o perfil cognitivo do leitor imersivo, Editora Paulus, fala dos diferentes tipos de leitores. “De posse dessas informações, o professor pode descobrir como agir em contextos educativos”, conclui.


Não podemos ignorar que nossas mentes estão se tornando híbridas durante o uso destas tecnologias e que nossa cognição tem sofrido alterações. Muitas pesquisas ainda estão sendo desenvolvidas para descobrir o que estas transformações têm provocado. Onde isto vai dar, ainda não sabemos.
11/12/2008

Fonte:
http://www.educarede.org.br/educa/index.cfm?pg=internet_e_cia.informatica_principal&id_inf_escola=769